No dia 20 de outubro de 2022, eu recebi uma leitura extremamente marcante. Naquela época, eu definitivamente não compreendia a profundidade do significado dela. A imagem se abria num pasto amplo e gramado, onde havia uma vaquinha e dois bezerrinhos. Eu tinha dois anos de idade e estava feliz, muito sorridente e corria em direção aos animais para abraçá-los. Havia ali uma forte conexão com a natureza, os animais e as sensações pelo meu corpo. A grama sob os pés, o vento no rosto, o sol na pele. Eu me sentia integrada com a natureza, como se tudo e todos fossem parte de uma coisa só. Lembro-me da fazenda que o meu avô tinha, com esses e muitos outros animais. Fui uma criança que sabia andar a cavalo, que entrava no curral da fazenda para ver os cachorros, os gatos, as vacas e os seus bezerros. A família do meu pai veio da terra. Ele é veterinário e, ao mesmo tempo, onde coloca as suas mãos, uma flor ou uma árvore nasce. Pode-se dizer que as suas mãos são mágicas.
Você pode estar pensando que essa minha versão de dois anos estava sendo acolhida de alguma forma ali. Mas não foi bem isso o que aconteceu. Depois da primeira cena, em comunhão com a natureza e os animais, um casal se aproximou. Eram meus pais. Eles se sentiam muito inseguros e estavam preocupados por não saberem lidar comigo, pois acreditavam que eu tinha muito mais sabedoria e entendimento do que eles acerca da vida e do universo. Eles reconheciam o tamanho da responsabilidade que estavam assumindo de me proteger, amar e amparar. E, diante disso, sentiam-se perdidos acerca do tipo de educação que deveriam me dar.
Aquela pequena versão minha, de dois anos de idade, sabia da preocupação deles. Eu sentia a energia emanada por eles e fui eu que os amparei. Olhando para eles, eu lhes disse: “Vocês não precisam se preocupar com isso. Eu sei o que vim fazer aqui. Eu sei o que eu preciso trabalhar. É claro que precisarei do seu apoio, acolhimento e proteção até que eu me torne independente. Mas peço para que me deixem livre para fazer o que eu preciso fazer, pois eu sei exatamente por onde seguir. Eu só precisava nascer”. Realmente, durante toda a minha vida, os meus pais me deixaram livre para aprender qualquer coisa que quisesse experimentar e eu fui atrás dos desejos e sonhos que queria realizar. Recordo-me das aulas de ballet, judô, vôlei, muay thai, informática, inglês, espanhol, desenho e, mais velha, até mesmo de francês, grego e mandarim. O que quer que eu escolhesse, apesar do medo e do instinto de proteção vindos deles, eles sabiam que eu seguiria qualquer decisão tomada com o coração.
A Larissa de dois anos pegou nas mãos do meu pai e da minha mãe e passeou com eles por aquele gramado enquanto falava e ensinava algo que eles ainda não entendiam. Eu pedia para eles sentirem a luz do sol, o vento, a grama. Eu lhes dizia como tudo é perfeito e para valorizarem o que Deus nos proporciona, ao mesmo tempo em que lhes dizia o que é Deus de verdade. Deus não era aquilo que tinham lhes repassado. Deus é o Todo. E mesmo com as dúvidas, os questionamentos e as inseguranças deles, eles se sentiam abençoados por me terem como sua filha.
Há tantas camadas que envolvem esse processo de acolhimento recebido pelos meus pais e os ensinamentos que a Larissa de dois anos tinha para repassar não apenas para eles, mas para a Larissa de 2022 e a Larissa de 2025. Isso para não mencionarmos os pontos secundários, lembrando-me da necessidade de me conectar com a natureza, os animais e o Todo. Ali, eu aprendi que os meus pais não são super-heróis. Eles possuem as suas próprias falhas, os seus medos e as suas inseguranças. Reconhecer que eles são passíveis de cometer erros me ensina sobre o perdão e me mostra como eu também sou um ser falho e isso não é um problema, mas sim um sinal de crescimento.
A minha missão começou com eles, ensinando-os que a vida pode ser diferente enquanto eles me ensinam a tolerância, a paciência e a compaixão. Como a mestra lumínica que sou, pois todos que estão aqui o são, compreendo que sou professora e aprendiz. Meus pais me ensinaram a comer, a andar, a me vestir. Cuidaram de mim, direta ou indiretamente, quando eu era totalmente dependente deles para a minha sobrevivência. Sobretudo, eles me deram a vida e, se não tivessem permitido a minha chegada, eu não estaria aqui. Hoje, eu posso lhes ensinar um pouco mais sobre o amor, o acolhimento e a gratidão enquanto caminho em direção à Larissa de dois anos, muito mais consciente da sua essência de amor, doçura e liberdade.
Por Larissa Alves.


